Pesquisar este blog

Licao -1

"A única lição que pan pode ensinar a wendy é aprender a voar. A única lição que wendy pode ensinar a pan é aprender a lembrar".


Seres encantados !


23 de jul. de 2007

Dias de Sol e Chuva

Ou isto ou aquilo
Cecília Meireles

"Ou se tem chuva e não se tem sol
ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo em dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo . . .
e vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranqüilo.
Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo."


Agradeço os dias de sol. Momento de se fartar com a nossa colheita interior.Tempo de partilhar seu próprio jardim.Deixar-se seduzir pela magia da luz, do fogo e da terra que ainda continua ùmida e fértil.
No entanto, os dias de solstício de verão nunca vêem sozinho.As vezes a tempestade flui e sopra no mesmo dia e direçao.Nesses dias de transição, sempre há o plano "b" a espreita, esperando ser acionado.
sempre o lado positivo nos dias de chuva:Coloco a minha capa de chuva invisível e solitariamente cumpro o ritual de dias chuvosos.Não preciso acender meu coração, porque todos estão com pressa e ainda "chove lá fora".Também não preciso construir pontes pra atravessar rios congelados ainda pelo inverno...
Hoje é um dia de chuva, que bom! .Volto mais cedo pra casa...e de alguma forma, minha alma se regozija em não ter que atravessar o lugar que geralmente a superficialidade ronda nos dias de sol.Seja, no parque da escola, na fila de espera e nas conversas intermináveis sobre o tempo.Tudo muito previsível e certinho!.Melhor falar sobre o tempo do que sobre "nós".
Pra que perder tempo com sentimentos e sorrisos quando é mais conveniente não falar,não dizer, não escutar, não se expor!

Outro dia falava com uma amiga, sobre a necessidade que tenho de pessoas que não falem "apenas" sobre o tempo.Mas que se desprendam de si mesmas.Ainda bem que trago em minha bolsa pozinho mágico de pirlipimpim.Assim, posso estar simultaneamente nessas duas dimensões.Entre o real e o meu mundo de sol e chuva.

22 de jul. de 2007

Pé de umbu.

Continuando as historias do meu coração...
Era uma vez um de umbu majestoso, ficava no centro de um grande quintal.Funcionava como um mundo paralelo.Assim como em as Crônicas de Narnia, onde havia um armário mágico, na minha vida existiu um frondoso umbuzeiro.Carregado dos umbus mais doces que vi.
Ainda não descobri quem alimentava quem nessa historia.Talvez fosse frondoso porque sempre estava de braços abertos pra todos aqueles que quisessem saborear e viver uma verdadeira aventura. E nesse novo enrredo, nada se comparava aos livros de contos de fadas que líamos na escola.Éramos autores e coadjuvantes da historia real das nossas vidas!.Nesse cenário tinha-se um pouco de tudo. Saboreávamos momentos de paz e também de conflitos e reconciliações.
Perdi a conta quantas vezes tive meus joelhos machucados ao tentar encontrar umbus maduros entre os galhos mais altos pra degustar e dividir com minhas primas e companheiros imaginários...E ainda que não conseguisse alcançar, ainda assim voltava feliz coberta de arranhões e folhas verdes e amarelas nos cabelos.
Em toda casa, sempre um lugar especial pra se falar da coisas que inquietam a nossa alma. O umbuzeiro era "o" espaço coletivo e ao mesmo tempo individual. Quando queríamos brincar dizíamos."Vamos brincar no de umbu?"...Quando queríamos partilhar, dizíamos: " Você quer brincar no de umbu?"...Quando não tínhamos tanta certeza de que seriamos ouvidos dizíamos; "Você ainda quer brincar no de umbu?"...ou simplesmente;"Preciso falar com voce no de umbu"...Eram essas as palavra mágicas...entoadas no aconchego da casa dos nossos avós.O melhor lugar do mundo !
Por tantas idas e vindas nesse mundo confuso e com tão pouca imaginação.Hoje sei, que ainda existem e resistem lugares especiais em nossa alma. Cada galho carrega uma história, como se fossem gavetas mágica a serem revistas e relembradas com emoção. A vida se ramifica dessa forma.
Hoje o umbuzeiro não possui mas a vitalidade de antes. Ninguém mais tenta subir em seus galhos.Nem faz deles castelos, navios, escadas, reinos ou simplesmente um planeta imaginário.Parece frágil e não carrega mais tantos umbus doces como na infância.O tempo passa, e as outras gerações que vieram não descobriram ainda seus encantos. Talvez por essa razão hoje ele permaneça tão quieto. No entanto, presente em minha alma.
Hoje, ainda que não possa subir com mesma agilidade da minha infância. Estar ao lado dele e usufruir da sua sombra e paz me deixa feliz. Consigo sentir a doçura daqueles anos em minha boca. E sempre que o vejo, mesmo de longe pela fresta do portão o reverencio com um sorriso.

21 de jul. de 2007

Memoria de Vovô










Querido Vovô,

Família numerosa de filhos. Casado com minha avó Vitorinha. A mais bela durante a sua juventude e maturidade. Dizem que suspiravam quando passava pelas ruas inda mocinha. Vovô...o senhor sem duvida é um homem de sorte! ter encontrado uma jóia preciosa como a vozinha, minha segunda mãe...
A vida segue o curso. E a idade por vezes debilita demais as pessoas que amamos..Assim, gosto de pensar no avô herói....Quando a dor vem, o coração se encarrega de procurar refúgio e alívio pra alma. Portanto, quando fecho os olhos consigo ver com nitidez meu avô falando pelos cotovelos como nos áureos tempos.
Lembro com emoção que quando alguém perguntava minha idade quando criança, ele sempre aumentava um ano!.Eu, é claro, me sentia importante e grande !.Gostava de dizer que eu tinha os pés grandes pra minha idade. Na época calcava 37. Ao mesmo tempo, delicadamente, me confortava.Dizia que eu era alta, precisava me sustentar.Estranhamente, até hoje nunca mudou a minha numeração.Provavelmente, não cresci como gostaria...
Sentar com ele na calçada e ouvir suas historias era maravilhoso...Melhor do que qualquer livro de histórias!. Certa vez me disse que não acreditava que o homem tinha ido a lua, que aquilo tinha sido uma armação! Bem que eu tentei argumentar, tinha 12 anos na época...Confesso que não tive muito sucesso!.Adorava ouvir as músicas engraçadas que ele cantava (ou piso o milho ou penero cherém...).

muitos anos atrás, quando foi perdendo sua audição, dizia que eu falava baixo, pra dentro.Gostava de falar com a tia Eldina porque ela falava explicado e ele entendia tudo., eu bem que tentei, continuo falando sem parar, mas ainda baixinho...E minha tristeza por vezes é apenas um sussurro ao vento...
Todos os dias ao tomar banho deixava água respingando por ele. Quando perguntava, por que não se enxugava direito e insistia em vestir a camisa ainda molhado, ele respondia que era pra passar o calor. Isso, é claro, aconteceu muito antes do calor insuportável de Teresina.Antes mesmo de se discutir o aquecimento global.Vovô é assim, tem um senso de humor refinado pras coisas simples da vida. Nos momentos que precisava agia com pulso forte, mas isso em nada abalava o seu humor de vô!
Andava sempre de bermuda, colocava uma camisa de algodão e botões e ia caminhar na calçada sem pressa, arrastando suas sandálias. Primeiro, dava uma voltinha até a esquina pra conversar com Sr. João Craveiro. Era rotina sagrada todas às tardes.
Nas férias,vovô nos levava ao clube no seu chevete branco.Era maravilhoso! banhávamos horrores, eu, minha irmã e minhas primas de infância. Depois da farra do banho tinha a farra do picolé maguary kibon ! dia perfeito!voltávamos torradas de sol e cheirando a cloro de piscina.

Outras vezes, pela manhã levantava e ia consertar coisas diversas, como, subir no telhado pra tirar goteiras, lavar a caixa d' água,podar o de umbu.Já falei do de umbu?..Não,...era o meu santuário! lugar predileto da minha infância. Onde a imaginação não tinha limites! reino da fantasia.Brincávamos e é claro comíamos umbus doces como mel !.Podem ficar com água na boca!As tardes sempre eram mágicas.Havia todo esse ritual de conversar com os vizinhos, sentar na calçada até chegar a noite à espera do ventinho fresco das 10:00 horas.Mas até , tinha muita coisa ainda por acontecer.
Vovô comprava pães na Mapil fresquinhos e crocantes, leite pasteurizado de saco e por ai vai!.Sempre reclamava da comida da minha avó que ficava resmungando com os comentários dele do tipo,...se era comida cozida gostava de fritura e vice versa! Mas isso são outras histórias...Sempre jantávamos às 18:00. Cheirinho bom de comida de a vista !

Adorava ver todas as coisas que faziam parte do mundo do trabalho do vovô.A espada e as fotos na época em que ele trabalhava no Quartel e todos aqueles adereços que não entendia, mas que ganhavam importância por serem de uma pessoa na qual admirava.Isso faz toda a diferença!.
Ainda consigo ouvir as batidas do velho relógio de parede...É tempo de voltar...Vovô Coronel, que saudades!.Tenho orgulho de ser sua neta, de fazer parte da sua vida!.Um dia espero chegar perto da sua ternura e fortaleza.
Amo você !
, como gosto de chamá-lo!. Uma pessoa que aprendi a amar e respeitar desde cedo. Hoje ele tem 92 anos. Com o passar do tempo, os anos o deixaram frágil, mas continua lúcido e presente na minha vida. Foram muitas as batalhas não é ?.

    Total de visualizações de página